Introdução ao problema do câncer (prevenção e diagnóstico precoce)
No Brasil, para o ano de 2017, o Instituto Nacional do Câncer estima que ocorreram quase 600 mil novos casos de câncer, portanto é um problema de saúde público. Os cinco cânceres mais freqüentes no homem são: próstata 61.200,pulmão 17.330,cólon e reto 16.660, estômago 12920 e cavidade oral 11.140. Nas mulheres os cinco tumores malignos mais freqüente são o de mama 57.960, cólon e reto 17.620, colo do útero 16.340, pulmão 10.890 estômago 7.600.
É sabido que o câncer é uma doença genética, ou seja, é necessário que ocorra alteração no material genético (DNA) para que uma célula comece a se multiplicar de forma desordenada até se disseminar e formar focos de doença à distância do tumor inicial (metástase). De uma forma simples, para entendermos como acontece o câncer, precisamos saber que em nosso organismo existe dois tipos de genes: um grupo que leva a alterações responsáveis pelo surgimento do câncer (chamado oncogenes) e outro grupo responsável por “frear” o desenvolvimento do câncer, estes são chamados genes supressores de tumor e são considerados os “soldados” que defendem nosso organismo contra o surgimento do câncer. Um desequilíbrio entre estes dois tipos de genes é que leva ao surgimento do câncer. Portanto, o racional para o controle do câncer seria controlar as alterações nestes genes, a tão sonhada terapia gênica, no entanto, ela não está disponível no momento e ainda não sabemos quando ela estará disponível para ser aplicada rotineiramente. Portanto não possuímos ainda tecnologia para reparar estes defeitos nos genes. Existem vários fatores externos que podem desequilibrar esta balança frágil e determinar o surgimento do câncer (exposição solar excessiva, tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, obesidade, consumo de gordura animal, alimentos processados entre outros).
No entanto, vários fatores contribuem para o surgimento do câncer, e dentre eles o meio ambiente e o modo como vivemos são cruciais no desenvolvimento desta doença crônica. Geneticamente somos muitos parecidos, em 99.99% somos iguais do ponto de vista genético. Estes 0,01% é o que nos tornam diferentes e esta diferença é responsável pelos riscos diferentes que as pessoas apresentam para desenvolver câncer. Outro dado importante é que a maioria dos cânceres é esporádica, ou seja, não há nenhum caso na família. É comum o paciente ficar surpreso ao receber o diagnóstico de câncer , pois não tem nenhum caso na família.Com freqüência ouvimos de nossos pacientes: “Mas doutor, na minha família não tem nenhum caso de câncer!” Na verdade 90 a 95% dos cânceres são esporádicos, ou seja, esta é a situação mais comum. Somente 5 a !0% dos pacientes com câncer apresentam parentes que já tiveram um diagnóstico de tumor maligno.
Se não podemos “mexer” em nosso material genético (DNA), em que podemos agir para diminuirmos nosso risco de câncer?
A incidência de câncer é diferente entre os países e dentro do mesmo país, também pode ser diferente dependendo da região que a pessoa vive. No Brasil, um país de dimensões continentais, a incidência de câncer é diferente entre as regiões. Por exemplo, nas mulheres a taxa bruta varia de 40 casos de câncer por 100 mil mulheres na região norte até 409 casos de câncer por 100 mil mulheres na região sul e sudeste. Por que ocorrem estas diferenças tão exorbitantes? Não existe dúvida que o estilo de vida tem influência nestas diferenças, já que as diferenças genéticas não explicam estas discrepâncias em relação a esta ampla variação de incidência. E quais os fatores que podemos mudar para diminuirmos a incidência de câncer?
Não temos como mexer na genética , ou seja , alterar os genes defeituosos.No entanto ,cerca de um terço ou mais dos casos de câncer são considerados passíveis de serem prevenidos com mudanças comportamentais e vacinas.
Vários fatores e comportamentos aumentam a incidência de câncer. Dentre estes fatores podemos citar: o tabagismo (é responsável por cerca de um terço dos casos de câncer), etilismo, obesidade, sedentarismo, infecção pelo HPV (papiloma vírus humano), exposição excessiva ao sol, exposição a radiações ionizantes, AIDS, hepatites B e C, alimentação inadequada (rica em gorduras saturadas, açúcar e farinhas refinadas e pobres em fibras). O consumo de açúcar no Brasil esta em torno de 60kg/habitante por ano.
Isto é muito claro, quando se analisam as diferenças nas incidências de câncer em relação aos hábitos alimentares das populações. Por exemplo, na Índia as incidências de câncer de pulmão, cólon e mama são pelo menos cinco vezes menores que em nosso meio, e a principal diferença é a alimentação.
Quando as pessoas migram de locais onde a incidência de determinado tipo de câncer é baixa para locais onde a incidência é mais elevada, já na segunda geração, os descendentes apresentam a mesma incidência da população para onde eles migraram. Isto demonstra claramente a influência do modo de vida, já que alterações genéticas não são a justificativa neste caso. Estes migrantes geralmente assumem o estilo de vida e alimentação da população para onde eles migraram , alterando seu risco de câncer.
Embora não existam grandes estudos científicos comprovando que a mudança dos hábitos alimentares diminui o risco do câncer “voltar” (recidivar) em pessoas que já tiveram câncer, a quantidade de estudos experimentais é muito grande. Estes estudos mostram claramente a atividade antineoplásica de várias substâncias. Somente com a curcumina (substância do “curry”), existem na base de dados Pubmed, que é uma das mais importantes de consulta científica em medicina, 2.412 artigos quando se utilizam as palavras chaves curcumina e câncer (consulta em 9.3.2014- www.pubmed.gov). Portanto, é prudente alterarmos nosso estilo de vida, especialmente revermos os conceitos em relação ao que seja adequado comermos e abandonarmos o mais rápido possível o sedentarismo. Ainda mais, quem financia os grandes estudos é a indústria farmacêutica, que prioriza o desenvolvimento de novas drogas e não o estudo dos benefícios da alimentação saudável, pois não se podem patentear alimentos. Então é fundamental incorporamos hábitos alimentares sabidamente saudáveis e aderirmos ao exercício físico, para que a incidência de câncer em nosso meio seja pelo menos igual a outros locais do planeta, onde as taxas de incidência são pelo menos cinco vezes menores.